Uma das coisas que mais se tem dito do regime democrático pós 25 de Abril é a sua falta de rumo, em contraste com o Estado Novo, durante o qual o país e o seu chefe sabiam muito bem o que queriam e para onde iam. Ora bem, esta visão é falaciosa porque as verdades incontestadas do Estado Novo, crismadas no célebre discurso de Braga, em 28 de Maio de 1936, durante a comemoração dos dez anos da Revolução, para além de representarem um país atrasado e activamente anti-progressista, foram paulatinamente mudando à medida que a realidade social se transformava. O Estado corporativo, cristão e imperial do Doutor Salazar tinha realmente uma matriz que, muito embora tivesse características próprias, nomeadamente, o autoritarismo anti-democrático, devia o seu pendor atlântico e colonial ao passado do povo português, pouco lhe restando senão continuá-lo.
Foi, aliás, essa conjugação entre a herança social, económica e cultural que o Estado Novo se encarregou de assimilar e dar continuidade, e as especificidades deste regime, destinadas a manter a ordem e o viver habitualmente de uma nação com “oito séculos de existência”, que retiraram flexibilidade ao país e o impediram de se desenvolver e desembaraçar de problemas (o ultramar, a falta de liberdades e de desenvolvimento) que influíram de uma maneira determinante para lhe pôr termo em 1974.
Assim, quando se ouve alguém a evocar com nostalgia o projecto inacabado do Estado Novo, devemos lembrar-lhe os resultados nefastos de projectos dessa natureza e que o seu fim era uma inevitabilidade. Já o projecto actual parte de uma conjuntura que torna obrigatória a opção europeia para Portugal e para a maioria dos países europeus, destinando-se a promover o desenvolvimento económico, social e cultural dos Estados-Membros num quadro de paz e de democracia, muito embora se possa, aqui e além, pôr em causa o método democrático adoptado nos momentos em que se atribuem maiores poderes à União Europeia (ratificação parlamentar versus referendária dos tratados).
Em comparação com o projecto estadonovista, a Terceira República colocou a tónica na liberdade individual e no desígnio nacional da melhoria contínua da qualidade de vida dos cidadãos, baseada numa economia social de mercado que, embora imperfeita e cheia de vicissitudes, tem funcionado a favor de quem produz e de quem consome.
Quem conheceu o Portugal do Estado Novo e quem conhece o de hoje não pode deixar de fazer justiça à melhoria do país enquanto entidade colectiva e ao enriquecimento dos indivíduos, não só em termos materiais, mas, acima de tudo, enquanto pessoas que podem livremente prosseguir os seus objectivos e reivindicar os seus direitos. Hoje, em crise, somos milhentas vezes mais ricos do que nos tempos mais prósperos do Estado Novo, pois mesmo passando fome, e haverá quem a passe, podemos denunciá-la e talhar o nosso destino.
Jorge Janeiro
Foi, aliás, essa conjugação entre a herança social, económica e cultural que o Estado Novo se encarregou de assimilar e dar continuidade, e as especificidades deste regime, destinadas a manter a ordem e o viver habitualmente de uma nação com “oito séculos de existência”, que retiraram flexibilidade ao país e o impediram de se desenvolver e desembaraçar de problemas (o ultramar, a falta de liberdades e de desenvolvimento) que influíram de uma maneira determinante para lhe pôr termo em 1974.
Assim, quando se ouve alguém a evocar com nostalgia o projecto inacabado do Estado Novo, devemos lembrar-lhe os resultados nefastos de projectos dessa natureza e que o seu fim era uma inevitabilidade. Já o projecto actual parte de uma conjuntura que torna obrigatória a opção europeia para Portugal e para a maioria dos países europeus, destinando-se a promover o desenvolvimento económico, social e cultural dos Estados-Membros num quadro de paz e de democracia, muito embora se possa, aqui e além, pôr em causa o método democrático adoptado nos momentos em que se atribuem maiores poderes à União Europeia (ratificação parlamentar versus referendária dos tratados).
Em comparação com o projecto estadonovista, a Terceira República colocou a tónica na liberdade individual e no desígnio nacional da melhoria contínua da qualidade de vida dos cidadãos, baseada numa economia social de mercado que, embora imperfeita e cheia de vicissitudes, tem funcionado a favor de quem produz e de quem consome.
Quem conheceu o Portugal do Estado Novo e quem conhece o de hoje não pode deixar de fazer justiça à melhoria do país enquanto entidade colectiva e ao enriquecimento dos indivíduos, não só em termos materiais, mas, acima de tudo, enquanto pessoas que podem livremente prosseguir os seus objectivos e reivindicar os seus direitos. Hoje, em crise, somos milhentas vezes mais ricos do que nos tempos mais prósperos do Estado Novo, pois mesmo passando fome, e haverá quem a passe, podemos denunciá-la e talhar o nosso destino.
Jorge Janeiro
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